A Torá como Evangelho
- Emerson Melo
- 1 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de fev.
Os livros de Genesis, Êxodo, Levíticos, Números e Deuteronômio, são conhecidos como o Pentateuco e para o povo judeu como a Torá, a Lei, e esta não se resume apenas ao decálogo (os Dez mandamentos) vai além disso.

Na visão protestante a Lei é vista como um livro extremamente legalista em relação a graça pregada no Novo Testamento. Mas estudando cuidadosamente os livros da Lei, percebe-se que na Torá Deus mostra-se como defensor da vida humana estando muito além da visão de juiz e fiscal da legislação moral, cerne totalmente diferente das interpretações errôneas dos fariseus feitas nos templos do Novo Testamento. Deus criou a Lei como forma de garantir liberdade e proteção ao ser humano, especialmente, os desamparados que eram explorados e vítimas das injustiças sociais cometidas. Para termos ideia do aspecto social do Antigo Testamento comparado a Lei, basta analisarmos os textos que se referem à idolatria. Numa leitura detalhada é possível verificar dois modos de idolatria presentes nas escrituras. A idolatria poderia ser pagã ou Javista (Javé).
A primeira forma de idolatria é a mais conhecida e comum pois é referente a uma divindade pagã e não a Deus (Javé).
A segunda forma de idolatria, a Javista, é discreta e é menos tratada. No antigo oriente o fator determinante não era o nome da divindade e sim os atributos relacionados a ela. Ainda que o nome de Javé estivesse em uso, os reis e sacerdotes elevaram os rituais acima do próprio Javé, que resumidamente chamar Deus de uma divindade não a igualava a Deus. Desenvolveu-se uma teologia deturpada da revelação Javista, contrariando a Torá que ordenava os rituais acompanhados do amor e solidariedade ao próximo, principalmente aos mais necessitados. No tempo do rei Salomão a relação entre "presença de Deus no Templo e obediência a Torá” estão explicitamente descritas em I Reis 9:1-9 e II Crônicas 7:11-22. Qualquer tipo de adoração que fosse dirigida a Deus (sacrifícios, orações, jejuns, etc.) sem estar de acordo com os preceitos da Torá, acima de tudo no que diz respeito aos aspectos sociais, é uma forma de idolatria e paganismo. Atente para o fato que os profetas Zacarias (7:7-12) faz uma declaração de juízo referente ao Templo e também igualmente o profeta Jeremias (22:1-9). O profeta Jeremias está repetindo o que Deus havia dito a Salomão conforme os livros de Reis e Crônicas citados acima, mas agora enfatizando o problema da idolatria: não apenas prestar culto aos outros deuses, mas também praticar a violência contra os necessitados. Qualquer tentativa para separar a adoração a Deus e o exercício da misericórdia ao próximo será deturpação do plano divino para a humanidade. No Novo Testamento, Jesus destaca autoridade da Lei (Torá) e a importância em cumpri-la conforme Mateus (5:17) e Lucas (16:14-17), de tal forma que a Lei deve ser reinterpretada a fim de exibir a natureza da justiça que o céu deve exigir, e que de fato exige. A Lei de Deus na vida humana dá nova forma à própria personalidade do cristão. Tendo posto isto acreditamos que ficou um pouco mais claro o quanto a proposta de Deus para a humanidade é abrangente, tanto no tocante a criar estruturas permanentes de proteção aos seres humanos, sobretudo os mais carentes desta proteção, quanto criando uma compreensão dos limites das autoridades de quem governa, a fim de garantir que o poder político seja usado para o bem-estar das pessoas e não para satisfação dos caprichos dos governantes. O amor que Deus requer de nós, pelo nosso próximo, exige que nós contemplemos a realidade em suas múltiplas dimensões. Existem problemas que só podem ser resolvidos a partir da dimensão econômica e política, o que requer de nossa parte tanto a compreensão quanto o envolvimento. No final, teremos a impressão de que não se trata de política ou economia, mas de meios necessários para expressarmos o amor divino aos pequeninos.
O correto entendimento bíblico é fundamental para ampliar a visão de Reino de Deus.
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