O que tornou o bom samaritano tão bom?
- Emerson Melo
- 2 de mai. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de fev.
Quem nunca ouviu a parábola do bom samaritano (Lc 10: 25-37)? Durante séculos, a história de Jesus inspirou as pessoas a ajudarem seus vizinhos.

Mas há partes da história que podemos perder se não estamos familiarizados com o judaísmo do primeiro século.
O que tornou o bom samaritano tão bom ? A razão para isso pode estar relacionado com o que se deparou no caminho, o que ele viu, homem meio morto, pensou ser um cadáver na beira da estrada (de fato o samaritano não sabia que a pessoa estava viva) e não ignorou o cadáver como os outros.
Na cultura judaica, não ser enterrado ou estar desenterrado era visto como uma maldição. A exemplo disso, lemos (2Rs 9:34-35) o profeta Elias profetizou que Jezabel enfrentaria esse destino terrível e, de fato, seu corpo morto foi despedaçado por cães selvagens.
No exílio babilônico, um homem justo chamado Tobias enterrou secretamente os corpos de outros judeus que o rei havia matado (Tobias 1:16-20; c. 2° século AEC).
A Mishná preserva o pensamento rabínico sobre o assunto e registra o seguinte: "Um Sumo Sacerdote e um nazir [ uma pessoa que fez um voto nazireu] não podem se contaminar ou tornar-se impuros com seus parentes [mortos] (ref. Lv 21:11), mas podem sem contaminar com um corpo morto abandonado". (Nazir 7:1).
Para os rabinos antigos, até a pureza sacerdotal, tornava-se secundária aos atos de bondade.
Um sumo sacerdote e um nazirita não podem se contaminar com seus parentes [mortos], mas podem se contaminar com um cadáver negligenciado. Se eles estavam andando no caminho e encontravam um cadáver negligenciado: Rabi Eliezer diz: o sumo sacerdote deveria se contaminar, mas não o nazirita. Mas os sábios dizem: o nazirita deveria se contaminar, mas não o sumo sacerdote. O rabino Eliezer disse a eles: o sacerdote deveria se contaminar, pois não oferece sacrifício por sua contaminação, e o nazirita não deve se contaminar, pois oferece um sacrifício por contaminação. Disseram-lhe: o nazirita deve se contaminar, porque sua santidade não é permanente, e o sacerdote não deve se contaminar, pois sua santidade é permanente.
De fato, a Torá associa as coisas mortas à impureza ritual, e Moisés não deu nenhuma ordem obrigando alguém a enterrar um corpo abandonado.
Aqueles que passaram pelo suposto cadáver na beira da estrada poderiam ter demonstrado misericórdia, mas, em vez disso, seguiram a letra da lei.
Nos dias de Jesus, enterrar um corpo que ninguém mais poderia cuidar, era visto como um ato altamente ético, um ato de bondade altruísta que não pode ser recompensado.
Jesus perguntou: "Qual deste três ... provou ser o próximo (amigo,irmão)..." e lhe disse: "aquele que demonstrou piedade por ele" (Lc 10:36-37).
Nos ensinamentos de Jesus (ἔλεος; helios), “compaixão”, “misericórdia” ou “bondade” (resed) em relação a outras pessoas transcendem todos os outros mandamentos.
Resed = graça, dívida que não posso pagar.
O samaritano era um estranho, sem obrigação de cuidar do cadáver de um judeu, mas demonstrou compaixão e bondade, agiu assim como um bom amigo e irmão.



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